Esta não é uma carta apaixonada,
Nem se trata de promessas do que serei.
Também não peço o que em ti mais quero,
Nem mesmo enxergo como o amanhã pode se trazer aqui.
Tudo isso pra dizer que eu não sei o que quero amanhã
Só sei dizer o que não quero.
O amanhã, se vier, pode chegar!
E o que eu não quero, apesar de tudo, é quase nada
Nem pesar na embalagem, vai pesar.
Pensando bem, é bom pensar só amanhã,
Porque o hoje tá tão bom de se viver!
Do céu, não peço nada mais que a chuva
Pois até o vinho, vem da terra, vem da uva
E, chovendo, o que colhi, vira meu pão
E ali, alimentado viverei.
E sem peso, nem desprezo vou saindo
Vagaroso, pro jajá, me encaminhando
Se me encontro já me fujo, me esvaindo
No caminho, me encaminho pro amanhã.
Feito dança, feito roda, roda viva
Vivo, e viva, Se assim bom me julgar!
Finjo, caio, rodopio, pulo, paro
Mas do passo, não me canso de dançar!
O meu rastro, por aí, vem me seguindo
Muito grato sou de hoje te encontrar
Amanhã, se quiser ter meu destino
Folha em branco, em tuas mãos, Deus vem te dar.
Naturalmente, sem corrente, uma semente
Decorrente de um ontem, vou plantar.
E dessa chuva, na torrente não afogue,
Pois só peço pra molhar, nutrir: e brote
Em boa terra, neste agora, o que será!